Abertura pública do Congresso de Refundação do Partido Comunista (M-L) lota auditório na ABI!
O II Congresso do Movimento 5 de Julho teve sua abertura pública, no dia 24 de março de 2000, no Rio de Janeiro, no auditório do nono andar da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Estiveram presentes ao evento cerca de 400 pessoas, que foram prestigiar essa iniciativa histórica de refundar no Brasil, o Partido Comunista, Marxista-Leninista.
A mesa da sessão pública do Congresso constituída por Afonso Celso, Miguel Batista, da direção do M5J, Aluísio Beviláqua, Secretário-geral do M5J, André Laino, professor de História e Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Henrique Miranda, diretor da Associação Brasileira de Imprensa; Hernán Ramírez, das FARC-EP da Colômbia, Michele Capuano, Secretário Geral da Democracia Popular Esquerda Unida (Itália), Ines Venturi, presidente geral da Associação Internacional de Amizade e Solidariedade com os Povos (Itália), Maria Antonieta Artusa (Itália) e Hu Renrong, da Agência chinesa de Notícias Xinhua.
A saudação inicial foi de Aluísio Beviláqua, que agradeceu a presença de todos que prestigiaram o ato que condensou 20 anos de trabalho do M5J, junto das populações mais carentes no Rio e em todo o país: “Gostaríamos de registrar e agradecer a presença também de companheiros de diversas entidades, que se formam em cada local onde a classe operária luta e aspira por melhores condições de vida, e que estão aqui presentes. Gostaria de agradecer também às que tiveram coragem, como a ABI, que sempre foi o palco de resistência, de liberdade de expressão dentro do nosso país e que mais uma vez mostra isso honradamente, não só cedendo as acomodações para todos nós, mas estando aqui representada por um de seus diretores – o qual nos orgulhamos muito de estar ao seu lado, que é o companheiro Henrique Miranda”.
No curso do evento, foi realizado um agradecimento especial às delegações internacionais, “que vieram até aqui para estarem conosco nesses dias. Isso para nós representa aquilo que chamamos de internacionalismo proletário, unidade proletária, unidade da classe operária”, considerou Aluísio Beviláqua, que presidia a sessão.
Viva LCP e a RPCML!
Aluísio agradeceu mais uma vez a presença dos velhos camaradas das várias fases de lutas travadas pelo povo brasileiro: “Estamos honrados por estarem aqui, entre nós, companheiros que vêm de uma estirpe de revolucionários brasileiros, que deram suas vidas em todos os momentos, tendo em vista dos ensinamentos de uma pessoa que não pode estar presente hoje, fisicamente, conosco, mas que certamente está em nossos corações e em nossas mentes – o Cavaleiro da Esperança, o líder desse país, que de Norte a Sul levantou todas as populações – Luiz Carlos Prestes. Para nós são as lições que nos trouxeram, são as lições que nos fizeram juntos lutar por essa palavra de ordem: Refundação do Partido Comunista. Estou falando de nós, estou falando da nossa luta e estou falando daquilo que vamos construir que é a Refundação do Partido Comunista marxista-leninista, para determinar a que princípios nós continuamos fiéis e vamos continuar até que se edifique dentro do nosso país a verdadeira pátria socialista, que nós possamos implantar o comunismo em nosso país.
Esta é nossa razão de vida e nossa luta, e não podemos nos entregar em momento algum ao neoliberalismo, ao encantamento de alguns momentos da mídia, pela falsa idéia de que o homem será substituído pela máquina, e que a nós só nos reservam a morte lenta, fria, nas chacinas, dentro do capitalismo. Não! O socialismo é possível, o comunismo é mais inexorável do que antes. Prova, com todo o desmoronamento de todas as coisas, a continuidade de Cuba socialista; a existência da China, que conseguiu se impor no mundo capitalista e hoje é reconhecida internacionalmente como uma força em emergência; como demonstra a existência da Coréia do Norte, cercada por todos os cantos, resistindo; e como demonstra a luta do povo vietnamita. E, finalmente, como demonstram as forças que hoje estão em pleno combate, no fogo da luta, como as FARC colombianas, aqui representada; e como os camaradas do MRTA, do Peru, que conosco estão, como os camaradas zapatistas que mantêm a sua luta. Enfim como mostra a inquietude de todos os povos, de todas as lutas e todos os continentes hoje no mundo.
Contra a intervenção imperialista na América Latina
A palavra foi dada ao representante das FARC-EP, que destacou, em síntese, a importância de que no Brasil, o M5J realize este Congresso para refundar o Partido Comunista, que se guie pelos princípios marxistas-leninistas, que lute pela revolução socialista no Brasil, e que este ato histórico representa um marco, não só na história desse país, como da América Latina.
Mensagens de comunistas históricos
Durante o ato foram lidas algumas das mensagens como as do arquiteto Oscar Niemeyer, Zola Florenzano, presidente de honra do M5J e um dos combatentes do Levante de 35; Delci Silveira, combatente da guerra civil espanhola, de Alaíde Pereira Nunes, viúva do comunista histórico Adão Pereira Nunes; do poeta Moacyr Felix; Bayard Demaria Boiteux; dos partidos irmãos do estrangeiro, como o KPML (r), da Suécia e o PC do Equador, a Corrente Leninista Internacional, A Frente Latino-Americana Contra a Impunidade; o MRTA, no Peru, entre os que manifestaram seu apoio e solidariedade à refundação do PCML no Brasil.
“A história verdadeira é a da luta de classes”
Em seguida, foi dada a palavra a Henrique Miranda, que através de um vigoroso discurso reafirmou a tradição democrática da ABI: “Companheiras e companheiros, esta casa foi fundada há 92 anos e nela só não entram, com nosso conhecimento e permissão, os fascistas”. Ele relembrou uma reunião, na ABI, do Comitê Central do Partido Comunista Francês, em que se colocou o debate “Como se deve escrever a história – do ponto de vista da verdade, ou do ponto de vista da luta de classes?”. “Falsa pergunta. Pois a história verdadeira é a da luta de classes.” E depois continuou: “Esta casa tem um jovem à sua presidência que costuma dizer `não devemos abusar dos privilégios da idade, mas, às vezes, somos levados à isso’. Então eu me lembro, saudosamente, do convívio mais do que político – fraternal – com Luiz Carlos Prestes, com Maurício Grabois, com Pedro Pomar, com Amarilio Vasconcelos, mas não devo alongar-me olhando para o passado, porque é ainda de um francês a definição de comunista, comunista companheiro das Farc, é o contemporâneo do futuro, porque o futuro é o comunismo”, salientou Miranda.
A ALN não foi esquecida
O representante da ABI presenteou ao PCML, através do militante histórico, João Gomes, uma cópia do Jornal Liberdade, datado de 1935, da cidade de Natal, trazendo os feitos heróicos do Levante de 35: “A Aliança Nacional Libertadora não pode nem poderá ser vencida, porque todos estamos unidos e cada um de nós é um soldado. Pode apenas a perda de uma batalha mas a luta continuou e continua, e aqui está a prova entre nós, neste auditório da ABI, e que de fato, caminhamos para aquilo que é fundamental: a unidade revolucionária”, finaliza.
DPSU/Itália: por um novo internacionalismo
Michele Capuano, falou em nome da delegação da Itália, e em termos gerais, saudou a iniciativa histórica de refundação, como um passo importante para a refundação da internacional comunista, unindo os partidos comunistas, que mantêm-se na defesa dos princípios marxistas-leninistas e na luta pela revolução socialista, na luta contra a política neoliberal, que ataca todo o mundo, e com maior crueldade aos países da América Latina, Ásia e África.
Abílio de Nequete, presente !!!!
Um dos momentos mais emocionantes do ato se deu com a presença de Edson de Nequete, filho de Abílio de Nequete – um dos fundadores do Partido Comunista de 1922 e eleito seu primeiro secretário-geral. O filho do revolucionário fez questão de prestigiar o Congresso, como uma continuação honrada da luta travada por seu pai e por outros revolucionários brasileiros que, em 1922, fundaram o Partido; e enfrentaram de cabeça erguida, como seu pai, a reação burguesa. Ao ser ovacionado, pediu que os cumprimentos fossem transmitidos, principalmente, às mulheres, esposas, mães, irmãs que lutaram pelo Partido Comunista, aos que lutaram pelo povo, aos que sonharam por uma vida melhor numa época terrível. E lembrou do revolucionário Abílio de Nequete: “Eu me lembro o quanto meu pai sofreu de perseguição dos nazistas, dos fascistas em Porto Alegre. Ele que já tinha uma escola de datilografia, de escrituração mercantil, foi obrigado a voltar a trabalhar como barbeiro pelos integralistas que batiam nos alunos de meu pai, quando estes saíam da aula. Tenho muito orgulho do meu pai e um orgulho muito grande da minha mãe, como os senhores também orgulham-se das suas mães e esposas. Eu não poderia deixar de trazer meu grande abraço e a grande emoção que eu senti ao ver que o sonho não acabou e que não vai acabar nunca”.
Também representando a delegação da Itália, falou Maria Antonieta Artusa (Itália): “a Associação da Solidariedade sauda os resistentes da terra, o Partido Comunista Marxista-Leninista, as Farc, e todos aqueles que ainda lutam para um sonho de liberdade, no sentido plural”.
O professor André Laino se disse honrado por participar da mesa e falou aos presentes da tarefa que cabe aos comunistas do PCML de ter como base resgatar as pessoas que estão espalhadas e que podem perfeitamente fazer ligações com outras pessoas do povo, para trazê-las para o caminho da revolução: “temos muitos companheiros que estão lutando no lugar errado, trazer essas pessoas para cá, isso é fundamental. Temos a necessidade de buscar essas pessoas que estão em outras agremiações, em outros partidos”.
Afonso Celso destacou a importância do ato de refundação do PCML, pois o mesmo não se trata de mais um partido comunista que surge, visto que há vários que se apresentam como partido comunista, mas todos esses que se apresentam como tal em várias sub-denominações ou não se consideram ou se proclamam marxista-leninistas, mas que são comunistas de novo tipo, adaptados em época moderna de globalização”.
O encerramento do ato público, coube a Aluísio Beviláqua, que declarou aberta a primeira sessão do Partido Comunista, visto que os dias seguintes do congresso foram reservados aos delegados. A partir desse momento, quando foram lembrados nomes desses comunistas históricos, a plenária numa só voz, respondeu com: “presente!”. Queremos registrar também aqui, os 70 camaradas revolucionários, que fiéis aos seus pontos de vistas e a sua ideologia política, às suas determinações acerca do processo revolucionário, foram massacrados na Guerrilha do Araguaia: “quero chamar em particular atenção para o camarada Maurício Grabois, que não era apenas um guerrilheiro daquele momento, mas era um intelectual revolucionário, um formulador, um teórico que morreu junto, não à caneta, mas ao fuzil. Quero chamar aqui ao companheiro Carlos Lamarca, ao companheiro Marighella e tantos outros revolucionários, como já foram citados, os revolucionários massacrados na Lapa, no “Massacre da Lapa”. Se nós perguntamos: por que não existe Partido Comunista Marxista-Leninista aqui no Brasil? É por isso. Porque a ditadura aqui no Brasil foi científica. Ela não matou qualquer um, ela matou aquele que projetava uma liderança revolucionária, que era capaz teoricamente de formular e que era capaz de organizar politicamente, que era capaz de reagir; a ditadura matou seletivamente, não matou a todos, fez questão de deixar alguns para quando a gente começasse a reorganizar, ele tremesse nas bases e começasse a aterrorizar os jovens que iriam surgir na luta revolucionária para afastá-los do caminho da revolução.
Mas ela pensou que destruiu todo mundo, os comunistas revolucionários, mas esqueceu das raízes profundas e históricas desse partido. E é justamente isso que explica novamente essa reaglutinação, novamente nós estarmos aqui pleiteando essa bandeira de luta: Refundação do Partido Comunista, declarando claramente a nossa posição, marxista-leninista. Após serem saudadas as entidades que estiveram presentes, como o Sindipetro, o Sinpra, a Oposição Bancária, a Comissão de Demitidos da FNS, Sociedade Brasileira de Cardiologia, o SPMVR; todos encerraram o ato cantando a Internacional e dando vivas ao PCML!